O TOC na infância pode ser muito severo e debilitante. Muitas vezes, o plano mais eficaz para estes casos é um programa de tratamento intensivo.
O que torna o TOC de uma criança tão severo para justificar um programa de tratamento intensivo?
Os elementos básicos de severidade incluem o quanto a criança está sofrendo, quanto os sintomas fazem parte do dia a dia, e até que ponto o TOC está interferindo no funcionamento escolar, social e familiar. Em alguns casos, as crianças não são capazes de verbalizar o sofrimento com clareza, mas muitas vezes ele pode ser notado em seu comportamento. É comum que as crianças com Transtorno Obsessivo-Compulsivo severo se sintam frustradas e descontem em seus familiares, inclusive irmãos. Outras crianças com sintomas severos de TOC se afastam, parecem muito tristes e não querem participar das atividades que normalmente são de seu interesse. A avaliação do nível de gravidade do TOC também pode ser feita mais formalmente com a utilização de instrumentos como a Escala Yale-Brown de Obsessões e Compulsões (CY-BOCS).
Outros fatores a serem contemplados, ao considerar um programa intensivo, é o progresso da criança baseado em um nível de tratamento padrão: como sessões de terapia, de uma a duas vezes por semana, e também, se a medicação faz parte do plano de tratamento.
Perguntas relevantes a serem feitas sobre o tratamento intensivo:
• A criança foi capaz de progredir continuamente no tratamento ou o tratamento chegou em um platô? O TOC realmente piorou com o passar do tempo?
•Mesmo que a criança esteja recebendo medicação, ela está recebendo tratamento de TOC (Tratamento Baseado em Evidência) apoiado/fundamentado em evidências com um profissional altamente experiente? Atualmente, a Terapia Comportamental Cognitiva / Exposição e Prevenção de Resposta (EPR) é o tratamento com o apoio mais empírico para crianças com TOC.
• O tratamento intensivo foi recomendado e, como pai, você não conseguiu dar esse passo? Há muitas razões pelas quais isso ocorre; a esperança de que o TOC da criança melhore, as divergências entre os pais ou a ansiedade sobre as “incógnitas” de colocar uma criança nesse nível de tratamento.
E SE MEU FILHO FOR CONTRA O TRATAMENTO?
Da mesma forma como a criança pode se opor a ir ao dentista, não é incomum que ela se oponha ao tratamento. De fato, um aspecto comum do transtorno obsessivo-compulsivo infantil é que a criança busca desesperadamente o controle, e pode até querer “proteger” seu transtorno obsessivo-compulsivo. É difícil para muitos pais administrarem uma criança muito resistente com TOC grave, especialmente à medida que se tornam mais velhas e maiores. É muito possível que as crianças ameacem agressão ou autoagressão se forem forçadas ao tratamento.
Infelizmente, o TOC é frequentemente progressivo, portanto, atrasar o inevitável pode piorar as coisas. A maioria das crianças aceita o tratamento intensivo quando descobre que seus medos não são justificáveis e começa a entender o que o TOC realmente é, e que também existem formas de ajuda e suporte disponíveis. Elas, no entanto, recebem sugestões de seus pais. Se os pais demonstram confiança e determinação, os filhos geralmente acompanham. No entanto, quando isso não funciona, cabe aos pais buscar o apoio de um profissional experiente que possa ajudá-los a lidar com as complexidades de conduzir uma criança muito assustada, teimosa ou desafiadora ao tratamento. Não é fácil, claro, mas geralmente vale a pena à longo prazo.
O QUE O TRATAMENTO INTENSIVO DE TOC IMPLICA PARA UMA CRIANÇA?
Antes de dizer qualquer outra coisa, deve-se notar como é importante modificar e adaptar o tratamento do TOC de acordo com o estágio de desenvolvimento da criança e seu nível de compreensão. Os tratamentos de TOC mais efetivos foram primeiramente desenvolvidos para adultos, incluindo o EPR, que, novamente, é o “padrão de ouro”. As modificações para o TOC infantil incluem o modo como o EPR é explicado e o formato da terapia. Ser capaz de traduzir tratamentos apoiados por evidências, como o EPR, em jogos terapêuticos e atividades que as crianças possam entender e relacionar requer treinamento avançado, experiência e habilidade. À medida que as crianças e seus pais aprendem mais sobre essa metodologia, eles geralmente descobrem que o EPR soa mais assustador do que realmente é. Além disso, a eficácia de programas de tratamento intensivo de TOC bem projetados para crianças é apoiada/fundamentada por pesquisas.
O tratamento intensivo requer um compromisso substancial para todos os envolvidos. É preciso priorizar as necessidades de saúde mental de longo prazo da criança em detrimento da escola, dos esportes ou de qualquer outra coisa - pelo menos por enquanto. Para ser eficaz, o tratamento intensivo é feito, geralmente, na maioria dos dias da semana durante pelo menos um ou dois meses. Por definição, inclui sessões de EPR individualizadas de tempo estendido, que podem durar 90 minutos ou mais, conforme apropriado. Além disso, as crianças participam de grupos que oferecem apoio de colegas e a oportunidade de ver que não estão sozinhas. Frequentemente são necessárias atividades na comunidade, para praticar exposições em um ambiente mais natural e, desta forma, generalizar e reforçar o que aprenderam em sessões dentro das clínicas. Além de seus principais sintomas do TOC, muitas crianças com sintomas severos também precisam trabalhar suas habilidades sociais, regulação emocional e estratégias de enfrentamento. Algumas delas também terão diagnósticos concomitantes que precisam ser abordados para que o tratamento seja bem-sucedido. Outras, podem ter problemas no funcionamento executivo, como habilidades de organização debilitadas, ou ainda, problemas de aprendizagem que também devem ser tratados, inclusive ser superdotado e perfeccionista).
Claramente, o tratamento intensivo do TOC infantil é melhor desempenhado se for feito de forma abrangente e com a “dose” adequada. Se o tratamento do TOC for insuficiente, os sintomas podem simplesmente não ser reduzidos no tratamento. O tratamento abrangente do TOC também deve incluir sessões adequadas de acompanhamento e reforço, pois tal problema é propenso a recaída. Este tratamento intensivo proporciona à criança e sua família um momento para colocar o máximo de foco possível na superação de uma situação muito difícil para todos os envolvidos.
Como o TOC não existe no vácuo, a participação da família no programa intensivo de TOC do paciente é fundamental, assim como a comunicação contínua com outros profissionais e educadores envolvidos no cuidado da criança. O tratamento intensivo oferece uma oportunidade para rever os medicamentos e também identificar os obstáculos do progresso que podem não ter sido aparentes no passado.
QUE APOIO OS PAIS RECEBEM?
Os pais que estão dispostos a redefinir seu papel e aprender a interagir efetivamente com uma criança que sofre de TOC podem fazer toda a diferença no sucesso de um programa de tratamento intensivo. No entanto, eles têm que perceber que existem muitos fatores que afetam o progresso e o resultado e que estão além de seu controle. Os pais dessas crianças estão, é claro, em uma posição muito difícil, pois seus desejos afetivos e naturais de fazer com que seu filho se sinta melhor, seguro e confortável podem, na verdade, acabar reforçando os sintomas do TOC.
Os programas intensivos para o TOC se esforçam para envolver e ajudar os pais tanto quanto possível. E para tanto, normalmente são oferecidas sessões familiares e treinamento extensivo aos pais. Isso pode ser muito complicado para algumas famílias que estão passando por outros tipos de estresses ou têm empregos exigentes - mas, onde há vontade, há um caminho. Os programas intensivos são projetados para ajudar, não para adicionar problemas. Portanto, sempre que possível, muitos programas encontrarão maneiras de atender às necessidades dos pais.
POSICIONAMENTO DO NBI
Um programa intensivo deve ser realmente considerado quando o TOC de uma criança não responde ao nível padrão de tratamento, a gravidade está aumentando continuamente ou existe um padrão de períodos cada vez mais profundos e prolongados de exacerbação de sintomas, fazendo com que essas crianças não sejam capazes de avançar em suas vidas. Apesar de seus muitos desafios, os estudos apontam que as vantagens de se comprometer com o tratamento intensivo em tempo hábil é o melhor para o bem-estar de uma criança, e é provável que supere quaisquer desvantagens.
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